Janeiro Branco: Depressão Grave Refratária

Entrevista Por: Isabella Mercedes - 01/2024

O Janeiro Branco é o mês de conscientização sobre os cuidados com a saúde mental. Com o intuito de ampliar as contribuições nesse cenário, consultamos o Dr. Israel Carvalho, psiquiatra da rede própria Amil, para falar sobre um tema pouco abordado: a Depressão Grave Refratária. 

O que é a Depressão Grave Refratária e quais são os desafios enfrentados por quem sofre com essa condição?

A depressão clínica, também conhecida como Transtorno Depressivo Maior, vai além da tristeza comum, manifestando sintomas intensos e duradouros que perturbam as atividades diárias. A predisposição a essa condição está associada a fatores como mudanças na função cerebral, hereditariedade, estresse e circunstâncias de vida. 

O termo “grave” refere-se à intensidade dos sintomas, bem como o prejuízo funcional acarretado por eles. Em um episódio classificado como grave, os sintomas são mais intensos e incapacitantes, e a pessoa pode ter dificuldade significativa em realizar atividades diárias básicas, como trabalhar, estudar ou cuidar de si mesma. Já o termo “refratário” refere-se a um quadro clínico em que os sintomas depressivos persistem apesar do uso adequado de tratamentos antidepressivos convencionais. 

Em outras palavras, é quando a pessoa não responde positivamente aos medicamentos ou terapias usuais prescritos para tratar a depressão. Esse tipo de depressão pode ser desafiador de tratar e muitas vezes requer abordagens terapêuticas mais especializadas ou intervenções alternativas para ajudar a aliviar os sintomas.

Como o diagnóstico é realizado para garantir que um paciente realmente esteja enfrentando Depressão Grave Refratária e não outras condições de saúde mental?

O diagnóstico de Depressão Grave Refratária envolve uma avaliação minuciosa conduzida por um profissional de saúde mental. Durante esse processo, o profissional realiza uma entrevista clínica detalhada, explorando a história do paciente, o momento de início dos sintomas e sua evolução ao longo do tempo. 

A observação dos sintomas específicos associados à depressão grave, como mudanças no humor, energia, padrões de sono, apetite e interesse por atividades, é essencial. A avaliação inclui uma análise do impacto dos sintomas na vida cotidiana e nas relações interpessoais do paciente. O histórico familiar é investigado, considerando transtornos mentais como depressão, bipolaridade e histórico de suicídio. 

Além disso, o profissional avalia outras condições médicas ou psiquiátricas que possam contribuir para os sintomas depressivos, como transtorno bipolar, transtorno de ansiedade, uso de substâncias ou condições médicas gerais.

 A resposta ao tratamento prévio também é examinada, sendo a resistência aos tratamentos antidepressivos convencionais um critério para o diagnóstico de depressão refratária. A exclusão de outras condições médicas ou psiquiátricas que possam mimetizar os sintomas depressivos é parte integrante desse processo diagnóstico.

Quais são os tratamentos e as possíveis estratégias de enfrentamento para lidar com essa condição?

Para enfrentar a depressão grave e refratária, uma abordagem abrangente e personalizada é essencial. Recomenda-se frequentemente a combinação de medicamentos antidepressivos e psicoterapia, uma vez que estudos indicam maior eficácia quando ambos são aplicados conjuntamente. 

Além disso, o suporte psicossocial, como participação em grupos de apoio, desempenha um papel importante na troca de experiências e no suporte mútuo. O acompanhamento psiquiátrico regular é crucial para ajustar medicações e estratégias de tratamento conforme necessário. Intervenções de estilo de vida, incluindo hábitos saudáveis como exercícios regulares, nutrição adequada e sono de qualidade, podem complementar os tratamentos médicos. 

A psicoterapia desempenha um papel significativo no desenvolvimento de habilidades de enfrentamento e na promoção de uma visão mais adaptativa dos desafios. O monitoramento constante de sintomas residuais e a intervenção precoce diante de sinais de recaída são práticas importantes. 

Em casos persistentes, a consideração de tratamentos de manutenção a longo prazo pode ser necessária para prevenir recaídas. Importante destacar que a abordagem ideal varia de pessoa para pessoa, exigindo a orientação de profissionais de saúde mental para determinar as estratégias mais adequadas e eficazes.